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Visões Urbanas, fotografias de Ana Calzavara

 

   O olhar de Goeldi para a cidade quase nunca procurou o monumento – mesmo na monumental Capital do país, o Rio de Janeiro –, o campo aberto, a paisagem larga ao infinito. Até o mar de suas gravuras parece plano chapado. Suas visões urbanas fixam uma cena entrecortada por muros, seu olhar apreende e é apreendido pelos desvãos, cantos e coisas, em uma topografia microscópica. Sua cidade não é maravilhosa, mas tomada de uma beleza involuntária.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                           

                                                            Oswaldo Goeldi, [Paisagem urbana], s/d, xilogravura.

   A lente de Ana Calzavara fixa-se também nas muradas que rompem a grande dimensão dos espaços abertos. Uma parede pode ser muro que fecha a perspectiva, primeiro-plano para dimensionar outros planos, ou apenas retângulo de cor. A notação difusa dos postes da linha de trem, por trás das paredes, ou os paralelogramos (paredes de edifícios) de um azul intenso contra o intenso azul do céu, da mesma forma que os reflexos n'água, desnorteiam o olhar: um ato é apenas ver, percepção absoluta, outro é "ver como se", impressão emaranhada em outras. Como em Oswaldo Goeldi, não há monumentos, não há lugares de memória. Que cidades são estas, as de Goeldi e Ana, afinal?  Mas a memória por vezes recusa-se a habitar seus mausoléus e agarra-se aos muros caiados, às manchas de sombra, aos reflexos, às pequenas percepções, mais impuras que aquela destinada a revelar as maiores belezas. 

 

Priscila Rufinoni

(texto da exposição "Visões Urbanas", Galeria da Livraria Cultura, Brasília, 2005)

 

 

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